sexta-feira, setembro 29, 2006


Nem era a pista perfeita!
Não, nem era.
Parecia não se importar...
Olhos fechados, sorriso no rosto, a nuca molhada.
O corpo todo molhado!
Calor!
Sem se preocupar por dançar sozinha, com amiga, ou com amigo.
Sem distribuir olhares.
Sem procurar olhares.
Sem querer saber de nada lá fora.
Música!
Dançando até a exautão...
Menina?
Mulher?
Feliz!!!

quinta-feira, setembro 21, 2006



"... Corro perigo como toda pessoa que vive. E a única coisa que me espera é exatamente o inesperado. ..
"

Clarice Lispector


terça-feira, setembro 19, 2006

Vento forte sopra folhas mortas.
A manhã chega.
Vem escorrendo pelos morros, acariciando os telhados...
Sol tímido aquecendo o mundo...
Bom dia!!
Um ótimo começo de conversa!
Ninguém ali.
Que fazer com este vício de distribuir carinho?
Que tal utilizar os recursos "modernos"?
Telefone, internet...
Correu a agenda do celular, a lista de e-mail, o msn dos amigos, as páginas de mensagens...
Não bastou.
Vício é sempre vício, mas parecia ter acordado "crescido".
Precisava mais...
Tomou um banho, quente, demorado.
Um deixar ficar, sonolento ainda, entregue.
Gostosa a sensação da água forte na nuca, depois escorrendo pelo corpo...
Sem pressa.
Se vestiu.
Arrumou a roupa como dava.
Com as asas...
Anjo da guarda desempregado...
Trazia um desejo de cuidar!
Era mais que desejo de distribuir colo, comum da sua natureza maternal.
Queria um verdadeiro cuidado e carinho com tudo o que a envolvia, cercava.
Saiu.
Sem escolher ao certo rua ou avenida, caminho.
Sem prestar tanta atenção aos sinas de trânsito.
Foi.
Foi cuidar.
"Cuidar da vida".

sexta-feira, setembro 15, 2006

"Não somos os mesmos,
mas somos mais juntos.
Sabemos mais uns dos outros.
E é por esse motivo que
dizer adeus se torna mais complicado.
Digamos, então,
que nada se perderá.
Pelo menos, dentro de nós..."

Guimarães Rosa

quinta-feira, setembro 14, 2006

Uma luzinha riscou a escuridão deixando pingos de luz.
Parecia um vagalume...
Há quanto tempo não via um!
Vagalume na cidade?
Estranho...
Lá no alto a lua.
Aquela, que não está mais cheia...
Minguando.
Quase nova!
É!
O jeito é sair de casa.
Sair, em busca de uma conversa...
Vou caminhar pelas ruas, pelas avenidas...
Assentar em um café, bar, banco de praça...
Sou capaz de conversar, ou melhor...
Sou capaz de ouvir a noite toda.
O que será que acontece, de vez em quando, com o espírito da gente?
Há pouco, bem pouco, o meu caminhar era, estava, um simples caminhar.
Agora não.
Minha alma está aberta!
Tenho ânsias de olhar, conversar, sentir.
Minha vontade é de dar atenção.
Dar atenção a tudo...

quarta-feira, setembro 13, 2006


A lua não está mais cheia.
Minguante.
Minguando.
Novo ciclo...
Nova fase...
Novo tempo.

Luz suave, macia, nua.
Entregue entre os lençois...
Move serena.
Se enrosca, enovela, mistura
Se funde...
Respira ofegante, geme, sussura.
De olhos fechados suspira...
Torpor.

Noite fresca entra pela janela.

Se aninha.

Que janela é esta?
Não estava ali antes.
Era outra a janela!
Conhecida...
De outro tempo ainda, mais distante.
Parece diferente!
Era outra a fase da lua...

Lua Nova.
Lua Crescente.
Lua Cheia de novo...

Delícia desenhar colorido!!
Leve, leve...

segunda-feira, setembro 11, 2006



A respiração quente...
A nuca nua...
Se vira entregue.
Cerra os olhos.
Se deixa ficar...


domingo, setembro 10, 2006


Pós tudo (1984)
Augusto de Campos

sábado, setembro 09, 2006



... nenhuma familiaridade atrapalha nossa esquisitice...



Asas


Sempre tive desejo de asas...
Me lembro quando li um texto do Álvaro Moreyra, livro antigo, sem capa, lembrança da juventude do meu pai...
Há tanto tempo!
Tinha 11 anos?
Acho que isso...
Era um livro de folhas amarelas, que abri ao acaso, (sempre gostei de começar alguns livros assim, ao acaso), em pé, no barracão do quintal...

"Mesmo se não fomos anjos (o que também não está provado) já tivemos asas. Há no prazer de olhar os pássaros voando entre o céu e a terra, uma sombra de saudade. Irmãos pássaros, irmãos livres, imagens de imagens... Quando o pensamento nos leva longe, nosso é todo o espaço..."

Saudade de asas...
Quem era aquele que escrevia estas palavras?
Naquele momento não sabia...
Não conhecia "Alvinho".
Que imaginava não ter chegado ao mundo pelo bico de uma cegonha,mas em um ramo de oliveira.
Queria voltar como um burrinho (se fosse nascer de novo), o burrinho do poeta Guerra Junqueira...
Dizia sofrer de diabetes na alma e não se interessar pela lua mas pelo luar.
Também achava que quando a gente fala a verdade dá sempre a impressão de que está brincando e que o céu de Carlitos era muito mais céu do que o de Santo Tomaz de Aquino...
Álvaro Moreyra.
Redator do semanário Fon-Fon!, do Rio, quando era leitura certa de um jovem Drummond.
Drummond que sempre encantou meu pai (correspondentes que se conheceram através de um caderno de recortes de jornal)
Bom Despacho / Rio de Janeiro
Meu irmão leva Carlos no seu nome em homenagem a ele.
Não sabia nada disso!
Saudade de asas.
Era só o que importava...
Adorava as asas de anjo que usava nas coroações de maio.
As asas de arame dos teatros infantis.
As asas dos passarinhos que invadiam, no fim da tarde, a árvore grande da praça.
Desejo de asas...
Há pouco tempo pensava em guardar minhas costas para um grande par de asas.
Veio a linha.
O duplo e uno.
Linha negra que percorre a coluna.
Quando estava me "cortando" ao meio falei do meu desejo.
- Sempre quis asas, só não sei quais seriam as minhas.
-"Quem sabe uma asa de anjo de um lado e outra de morcego do outro? Super duplo, geminiano."
Um amigo sugeriu asas de borboletas.
Grandes asas coloridas de borboleta.
Pra quem tem orelhas de fada...
Não sei.
Só sei deste desejo.
Só sei desta saudade, que não sei de onde vem.
Quem sabe Álvaro Moreyra estava certo?
Às vezes penso que ainda as temos.
Guardadas por algum motivo...

É preciso ter asas quem tem desejo de abismos.

quinta-feira, setembro 07, 2006


Noites frias.
Nem parecem noites de setembro.
Alguma coisa de junho, de junino.
O sobrinho quer pipoca.
A irmã pede canjica.
Parece que esta sensação não é só minha...
Vou pra cozinha saciar desejos, deles e meus.
Leite, açúcar, amendoim torrado, côco, leite de côco...
A panela vai recebendo, o fogo vai cozinhando.
O cheiro cresce, lento e constante.
Invade cada cômodo da casa.
Nos invade.
Tão bom este se sentir invadida, tomada, tida!
Queria festa junina.
São João, São Pedro, Santo Antônio
De cabeça pra baixo enquanto a moça não consegue o marido.
Pau de sebo, pescaria, barraca de beijo
Primeiro beijo do garoto de sardas, olhinhos de noite, que espiava tímido a menina de fita no cabelo.
Argola, tiro ao alvo, correio elegante
O coração adolescente dispara. Trás nele aquele amor que ainda não sabe usar. Parece que arranha.
Pé de moleque, cocada, maçã do amor, pipoca, algodão doce
Pedacinhos de nuvens, leves, brancas e coloridas, pra comer com a mão e lamber os dedos.
Fogueira!
Fogueira não pode faltar!
Sempre tive um certo fascínio pelo fogo.
Solene, divino, transformador.
Labaredas dançando, estranhas visões ardentes...
E bandeirolas?
Bandeirolas de papel.
Bandeirolas leves e coloridas, distribuídas em longos barbantes, recebendo beijos de vento...
Festa.
Lua cheia no céu.
Bolacha maria.
Manto escuro com estrelinhas bordadas, pedacinhos de espelhos.
Tão distantes!
Não consigo me enxergar neles.
Olho, procuro.
A imagem perdida...
Perdida não.
Está lá.
Sei que está.
Vento forte bate na janela.
Pedindo pra entrar.
Chamando pra sair.

Vem rodopiar como as folhas!
Vem!
Fecha os olhos, abre os braços e brinca de voar!
Vem!
Sem medo de resfriado, dor de garganta, laringite, bronquite, sinusite...
Vem menina!
Dança!
Eu te levo, leve.
Cabelos despenteados, bochechas rosadas, sorriso largo com dentinhos brancos...
Vem gargalhar comigo!
Tenho sonhos novos pra plantar.
Tenho memórias antigas pra te entregar...

Ela encosta o nariz no vidro.
Olha lá fora.
Olha pra dentro...
Sopra e escreve segredos.
Segredos pro vento.
Segredos que vão desaparecer rápido pra quem não souber onde e como procurar.
O desejo de se juntar a ele cresce.
Cresce forte.
Desejo de menina...
Quer abraçar o vento!

Mas a manhã está cinza e ela esqueceu sua caixa de lápis de cor...

terça-feira, setembro 05, 2006

A casa quase vazia...
A alma quase vazia...
Nas duas existiam ecos, fantasmas conhecidos, seres que ela viveu e que a viveram.
Mas faltava ela.
Não encontrava mais a calma. Não encontrava mais a convulsão.
Sabia, de um maneira estranha, que tinha que terminar de se perder, até o fim. Depois se encontrar de novo. Reconstruir. Construir O novo.
Isso não parecia fazer sentido!
No primeiro momento achava precisar de ninho, de colo, de útero.
Queria germinar de novo.
Não percebia que precisava sangrar o que restava.
Antes.
Tudo aquilo dela era parte,mas não era ela, já ela não existia...
Resolveu que era preciso sair.
Buscar?
Não, não era isso.
Não tinha nada o que buscar lá fora. Não procurava nada.
E se encontrasse?
Não teria onde guardar.
O vazio era cheio demais pra receber qualquer coisa.
Saiu.
Andou pelas ruas sem procurar pra onde ir.
Apenas caminhava.
As pernas mantinham uma constância que surpreendia.
Sem pressa.
Sem angústia de chegar.
Trazia na mão um monte de chaves.
Portas que não guardavam nada.
Lugares que não eram seus.
Na bolsa um celular que tocava, insistia, mas ela não escutava.
O vento batia no rosto e despenteava os cabelos.
Não importava.
A noite envolvia o corpo, entrelaçava seus braços, tocava sua nuca...
A boca entreaberta, que a língua acabava de molhar, parecia querer aspirar a vida.
Torpor.
O corpo todo treme, o coração dispara.
Chuva de paina, algodão, plumas de asas de anjos...
Convulsão.
Depois a calma.
E ela se perdeu. Se perdeu até o fim.
Se esvasiando pelos olhos, gota a gota.
Agora inteira.
Mistura de prazer e pânico, mais uma vez...
A mão direita pousa na mão esquerda.
Elas parecem saber que não estão mais sozinhas.
Se têm.

Ela agora pode ficar de pé, no escuro, nua...

Olhos sujos de civilização.
Cresce neles um desejo de árvores e aves...

Encaixotando Gi


As plantas esperam mãos para levá-las.
Não estão mais na janela.
Janela de casa, de casa de interior, não parece de apartamento.
Motivo de escolha daquele lugar.
Fechá-la ainda uma vez...
Caixas, de vários tamanhos e formas, espalhadas pela sala.
Algumas fechadas, outras ainda esperando. Algo a receber.
Copos, panelas, temperos, cheiros...
Pimentões coloridos, brócolis, cogumelos, cenouras amarelas, festa de sabores na wok.
A carne chia na panela vermelha.
Sálvia, alecrim , tomilho, manjericão.
Mistura de claras, leve, suspiro...
Denso, um pouco de conhaque, chocolate quente na caneca branca.
Pão fresco desperta olhos ainda sonolentos...
Livros.
Para ler sozinho, para ler junto, para não ler. Na cama (desmontada), na mesa (sem cadeiras), na poltrona...
Papéis, lembranças, pedaços de 16 anos, pedaços de mais tempo ainda...
Uma gata mia e se aninha no colo. Só uma. A pequena não está mais lá.
Olhamo-nos sem palavras, profundas, entregues. Ela parece saber da despedida.
Toca jazz no som que logo logo vai ficar mudo...
Garrafa de vinho, antes guardada, esperando aquele momento.
Amigo querido que divide comigo o chão da sala.
Fotos.
Registros de um outro olhar.
Lavo meus olhos que andavam turvos...
Notícia triste. Morte. Choro bêbado.
Noite.
Alguma coisa me assusta.
O medo me pega pela mão e me leva pra fora, me faz andar.
Não posso esquecer de fechar a porta.

(Belo Horizonte, Funcionários, Aimorés, 24 de agosto de 2006, encaixotando Gi...)