terça-feira, setembro 05, 2006

A casa quase vazia...
A alma quase vazia...
Nas duas existiam ecos, fantasmas conhecidos, seres que ela viveu e que a viveram.
Mas faltava ela.
Não encontrava mais a calma. Não encontrava mais a convulsão.
Sabia, de um maneira estranha, que tinha que terminar de se perder, até o fim. Depois se encontrar de novo. Reconstruir. Construir O novo.
Isso não parecia fazer sentido!
No primeiro momento achava precisar de ninho, de colo, de útero.
Queria germinar de novo.
Não percebia que precisava sangrar o que restava.
Antes.
Tudo aquilo dela era parte,mas não era ela, já ela não existia...
Resolveu que era preciso sair.
Buscar?
Não, não era isso.
Não tinha nada o que buscar lá fora. Não procurava nada.
E se encontrasse?
Não teria onde guardar.
O vazio era cheio demais pra receber qualquer coisa.
Saiu.
Andou pelas ruas sem procurar pra onde ir.
Apenas caminhava.
As pernas mantinham uma constância que surpreendia.
Sem pressa.
Sem angústia de chegar.
Trazia na mão um monte de chaves.
Portas que não guardavam nada.
Lugares que não eram seus.
Na bolsa um celular que tocava, insistia, mas ela não escutava.
O vento batia no rosto e despenteava os cabelos.
Não importava.
A noite envolvia o corpo, entrelaçava seus braços, tocava sua nuca...
A boca entreaberta, que a língua acabava de molhar, parecia querer aspirar a vida.
Torpor.
O corpo todo treme, o coração dispara.
Chuva de paina, algodão, plumas de asas de anjos...
Convulsão.
Depois a calma.
E ela se perdeu. Se perdeu até o fim.
Se esvasiando pelos olhos, gota a gota.
Agora inteira.
Mistura de prazer e pânico, mais uma vez...
A mão direita pousa na mão esquerda.
Elas parecem saber que não estão mais sozinhas.
Se têm.

Ela agora pode ficar de pé, no escuro, nua...

1 Comments:

Blogger Ana C. Bahia said...

"se perder, até o fim"
"sangrar o que restava"

se esvaziar, para nesse vazio resgatar um "tudo"...



"Se esvasiando pelos olhos, gota a gota. Agora inteira."

a gente sempre na procura da "coisa inteira" que só conseguimos nos aproximar (pq só é possível a aproximação) quando transpomos algum limite -- talvez o olho, o limite que a gota ultrapassa...

1:45 PM, setembro 06, 2006  

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