Encaixotando Gi
As plantas esperam mãos para levá-las.
Não estão mais na janela.
Janela de casa, de casa de interior, não parece de apartamento.
Motivo de escolha daquele lugar.
Fechá-la ainda uma vez...
Caixas, de vários tamanhos e formas, espalhadas pela sala.
Algumas fechadas, outras ainda esperando. Algo a receber.
Copos, panelas, temperos, cheiros...
Pimentões coloridos, brócolis, cogumelos, cenouras amarelas, festa de sabores na wok.
A carne chia na panela vermelha.
Sálvia, alecrim , tomilho, manjericão.
Mistura de claras, leve, suspiro...
Denso, um pouco de conhaque, chocolate quente na caneca branca.
Pão fresco desperta olhos ainda sonolentos...
Livros.
Para ler sozinho, para ler junto, para não ler. Na cama (desmontada), na mesa (sem cadeiras), na poltrona...
Papéis, lembranças, pedaços de 16 anos, pedaços de mais tempo ainda...
Uma gata mia e se aninha no colo. Só uma. A pequena não está mais lá.
Olhamo-nos sem palavras, profundas, entregues. Ela parece saber da despedida.
Toca jazz no som que logo logo vai ficar mudo...
Garrafa de vinho, antes guardada, esperando aquele momento.
Amigo querido que divide comigo o chão da sala.
Fotos.
Registros de um outro olhar.
Lavo meus olhos que andavam turvos...
Notícia triste. Morte. Choro bêbado.
Noite.
Alguma coisa me assusta.
O medo me pega pela mão e me leva pra fora, me faz andar.
Não posso esquecer de fechar a porta.
(Belo Horizonte, Funcionários, Aimorés, 24 de agosto de 2006, encaixotando Gi...)
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