segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Foi um adormecer estranho...
Adormecer sempre parece despedida!
Despedida sem palavras.
Despedida debaixo dos silêncios...
Tudo bem, um até breve.
Até o acordar...
Desta vez a despedida do adormecer veio debaixo de silêncios cheios de sons.
Mais sons que as frases ditas, que as palavras ouvidas.
Ela sabia que aquele silêncio cheio de sons no adormecer traria sono confuso, torto, doído.
Sonhos de asa quebrada.
Assim foi durante grande parte da noite.
Acordava sem entender direito onde estava, sem sentir direito o corpo que dormente parecia que ainda sonhava.
Adormecia de novo.
De novo corpo e mente sonhando.
Sonhavam o mesmo sonho de asa quebrada...
De tão estranho parecia um sonho novo, mas a asa quebrada...
Era sem dúvida sempre o mesmo sonho.
Até que de novo acordou.
Só mais um acordar dos muitos que preencheriam a noite, pensou.
Sentia calor.
Virou pra se livrar de parte do lençol.
Deixar livre o corpo nu.
O vê.
Ele dormia.
Por instantes ela vela aquele dormir com a intensidade de quem sente as ondas do mar.
Vela aquela respiração com ternura.
Sem resistir, toca.
Com pontas de dedos macios, tímidos e mansos ela lhe toca o pescoço.
Pressente naquele rosto, agora só quase adormecido, um sorriso ameno.
Ele mergulha, numa carícia lenta, as mãos na profundidade dos seus cabelos.
Ela lhe dá um último pedaço de olhar e adormece de novo.
Mais uma vez o sono.
Mais uma vez o sonho.
Agora outro.
Sonho sem asas quebradas...

Ele percorre o rosto dela com a mão.
Cada linha, cada traço.
De olhos fechados a esculpe na lembrança.
Toca a sua boca com os dedos.
Ela o morde de leve e sorri.
Riem.
Se olham.
Se olham cada vez mais de perto.
Tão perto que suas respirações se confundem e confundidas se encontram em um beijo.
Se beijam.
Assim permanecem em beijo de corpo todo...
Corpos quentes, corpos suados.
Habitam-se...
Misturam-se...
Choram-se...
Ele percorre a suavidade daquela pele macia e se deixa ficar longamente em cada curva.
Depois guarda as suas mãos nas dele.
Ela se aconchega um pouco mais.
Completamente entregue.
Parece "tremular como lua na água".
Adormecem e sonham.

Adormecem e sonham naquele sonho que não é sonho de asas quebradas...